quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ode às marimbas de 2015

 Dezembro sempre foi o meu mês favorito porque eu sou apaixonada por todas as comemorações que ele traz e, especialmente, por essa ideia de transição de um ano para outro que carrega um monte de esperanças e expectativas. É só um número diferente no calendário? É. Mas é inegável que se a gente quiser pode ter uma representação muito mais forte.
 Para a maioria das pessoas que eu conheço, 2015 foi um ano muito difícil. No meio de um monte de problemas financeiros ou relacionados à saúde e a relacionamentos, tá todo mundo de dedos cruzados para que 2016 seja mais fácil e mais leve. Seja acreditando em superstições, fazendo listas ou só desejando para que o universo traga algo melhor, tá todo mundo na expectativa e, apesar de tudo, acho isso a coisa mais adorável do mundo. É um aglomerado de boas energias e de boas vibrações que emanam por aí e não é possível que não saia algo de bom disso, né?
 Pra mim o ano começou com a viagem pela qual eu mais esperei na vida. Ao lado da minha família, pude conhecer alguns lugares pelos quais sempre esperei passar e que me renderam memórias que são completamente inesquecíveis. E aí, logo quando voltei, a vida deu aquele velho giro de 180 graus me fazendo sair da minha bolha de conforto e me levando pra morar em uma cidade diferente, com pessoas diferentes e um monte de experiências completamente assustadoras.
 Tive que aprender a cozinhar, a criar uma rotina para limpar a casa, a lidar com não estar mais no ensino médio, a administrar ficar doente longe do colo da minha mãe e a fazer mais coisas sozinhas do que eu estava acostumada. Logo eu, que sempre falei que gostava de fazer as coisas ao meu tempo e do meu jeito, descobri que não era tão fácil assim quando tudo tem que acontecer conforme o seu planejamento.
 Não é tão legal pegar um ônibus para ir ao centro da cidade sem ninguém, nem sentar numa cadeira da praça de alimentação e comer sozinha. Mas, a gente vai e faz e, no final das contas, é só mais uma coisa que se aprende. Dá pra viver assim, por incrível que pareça.
 Enquanto eu tinha meu coração cada vez mais apertado por estar longe da minha família e de muitos dos meus amigos, eu conheci um monte de gente nova e maravilhosa, vi amizades se tornarem cada vez maiores e mais intensas e até virei vizinha de alguém que conheci no Twitter.
 Descobri que o curso que eu tinha escolhido era bem diferente do que eu tinha imaginado e que isso não o impedia de ser infinitamente melhor e mais apaixonante. Fiz parte da criação de um curta, de um documentário e, não podemos deixar de mencionar, de um blog e de um canal do YouTube. Participei de uma Maratona Literária, li Guerra dos Tronos, assisti a um monte de filmes que todo mundo já tinha assistido e cobri um festival de cinema maravilhoso.
 Me afastei um pouco da internet, ou pelo menos de como eu costumava vê-la, descobri um monte de séries incríveis, conheci o Josh Radnor e a pequena sereia e montei a minha primeira árvore de natal da vida adulta. Ah, isso também. Fiz 18 anos e depois de várias tentativas tenho quase certeza de que consumir bebidas alcoólicas não é pra mim. Nem cigarro. Falhei miseravelmente em ser uma garota de Tumblr.
 Conheci feministas maravilhosas que me fizeram amar esse movimento ainda mais e vi um monte de amigas descobrirem quão maravilhoso ele é. Comecei a entender astrologia e fiz mais mapas astrais do que eu posso me lembrar. Descobri e redescobri o amor por certos OTPs* e escrevi umas fanfics. Abandonei meu projeto de livro e me arrependi. Escrevi sobre cinema, seriado e problematizei loucamente nesse bloguinho em que vocês estão agora.
 Publiquei uma matéria em um jornal e superei minha vergonha para fazer umas entrevistas. Ganhei alguns centavos com o YouTube e pulei de felicidade como se fosse a mais nova milionária do Brasil. Gravei muitos vídeos no Snapchat falando sobre a vida, janelas e o risco de morrer ao comer pão fora de validade (update: tá tudo bem!). Assisti a uma peça na Broadway e a umas palestras feitas por gente super inteligente. 
 Voltei ao meu colégio do ensino médio mais vezes do que seria considerado são e chorei vendo fotos da minha família reunida quando eu estava longe. E entendi tudo isso porque descobri o que ter ascendente em câncer significa, então tudo bem. Conheci um XY que é incrivelmente amável e maravilhoso. Aproveitei as quartas-feiras maravilhosamente bem depois de ter descoberto uma promoção do dobro de pizza pelo preço de uma. Finalmente entendi o que significa quando dizem que amigos são a família que a gente escolhe porque, quando se está tão distante da sua, são eles que ajudam a segurar a marimba**.
 E esse foi definitivamente um ano em que as marimbas estavam especialmente difíceis de serem seguradas. Mas, entre mortos e feridos, estamos todos aqui e é isso que importa. Sobrevivemos. E que venham as novas marimbas, as novas experiências, os novos aprendizados. Um feliz ano pra todo mundo e que tudo seja infinitamente mais incrível em 2016. Vejo vocês ano que vem (porque eu não podia perder a piada)! 

*OTP = one true pairing. Um casal maravilhosinho que faz seu coração se aquecer, basicamente.
**Se você não entendeu nada disso de marimbas, o que você anda fazendo na internet? Corre aqui.

sábado, 7 de novembro de 2015

2º Festival de Cinema de Caruaru: Meus dez curtas favoritos

 Foram muitos curtas durante essa semana e pra ficar mais dinâmico pra todo mundo, achei que seria melhor falar sobre quais filmes ganharam meu coração do que resenhar todos eles.
 Não pude ir para todas as mostras, mas fui ao máximo que pude e foi uma experiência muito rica. Os organizadores do evento estão de parabéns em todos os aspectos. Conseguiram promover um festival tão incrível que mal acabou e já estou ansiosa para a terceira edição. 
 Deixei de fora dessa lista os filmes do primeiro dia porque já tinha falado deles antes e já tive que lidar com um batalha interna para decidir os que entrariam nessa lista, mas todas as indicações foram feitas com amor.

Virgindade
 Esse curta pernambucano, com direção e roteiro do Chico Lacerda, tem um estilo documental e fala sobre as primeiras experiências de um cara na descoberta da homossexualidade e de si mesmo como um ser sexual. É incrível porque a narração norteia tudo e funcionou de uma forma maravilhosa. Uma linha do tempo é criada por meio desses relatos e apesar de todos apresentarem esse aspecto de sexualidade, não há nada de relação sexual propriamente dita. O grande foco, pelo menos na minha opinião, é toda a trajetória da infância e da adolescência desse narrador que vai se moldando e descobrindo mais e mais sobre si mesmo. Ele não está disponível na íntegra na internet, mas dá pra ver o trailer. Aviso de amiga pra não dizer que não sabia: tem um monte de imagens de pênis. Se você não gosta, não veja.

Translúcidos
 O filme de Asaph Luccas e Guilherme Candido funciona como um falso documentário: tem o formato documental, mas apresenta narrativas ficcionais. Ele trata sobre uma clínica que vê a transgeneridade como patologia, internando transgêneros e realizando um tratamento com remédios e técnicas behavioristas de aversão que lembram muito o Método Ludovico, do livro/filme Laranja Mecânica. Também não está disponível online, mas há um monte de informações (e o trailer) aqui.

Mulher(es)pelhos
 Realizado pela Secretaria da Mulher de Pernambuco e dirigido por Rayza Oliveira, o curta trata sobre abusos sexuais e o trauma que eles geram nas vítimas. Com relatos fortes e de uma sensibilidade incrível, o filme mostra o desafio que é se encarar no espelho depois desses acontecimentos e reflete sobre as cicatrizes que ninguém pode ver, mas que dificilmente serão apagadas. Infelizmente, nem o curta, nem o trailer estão na internet.


 O filme de Leandro Tadashi é a coisa mais linda do mundo. Tem um ar poético e fala de uma forma delicada sobre a relação de um neto com a avó que acaba de se mudar para a sua casa, o expulsando do quarto em que antes dormia e mudando um pouco a sua rotina. Com muita sutileza, vão explorando o interesse que o amor da pelas plantas conquista em Bruno e como essa forte ligação se torna praticamente um dos personagens. Dá pra conferir o trailer  e morrer de amores aqui.

#Apaixonadinho
 Esse curta é daqueles que aquecem o coração de uma forma tão fofa que é impossível não recomendar pra todo mundo. Com direção de Alexandre Estevanato, ele relata sobre como é estar apaixonado pela primeira vez e é tão adorável que nem sei como explicar. Tenho certeza que todo mundo vai se identificar pelo menos um pouquinho com o drama de encontrar o primeiro amor e ter medo de não ser correspondido e morrer sozinho. O trailer está no Youtube e estou torcendo pra que logo o curta esteja também porque quero reassistir toda vez que ficar triste.

Cadente
 O filme foi dirigido por Diego Lopes e Claudio Bitencourt e tem a direção de arte mais linda do universo. Os cenários e as vestimentas são muito lindos e combinam perfeitamente com a história. Ele fala sobre uma garota que consegue, meio que sem querer, entrar em contato com um astronauta e acaba desenvolvendo o hábito de conversar com ele diariamente. No meio das suspeitas de que seja só um trote, ela também está ao lado de uma mãe obcecada com astrologia e astronomia, que acredita que o marido abduzido está prestes a voltar. O trailer é muito bonitinho e já dá uma noção da beleza do curta completo.

A dona do pecado dos outros
 Com direção de Carlos Silva e tendo um viés de humor, esse filme é sensacional. Ele fala sobre uma mulher que vai até um padre falar sobre os absurdos dos pecadores que estão ao redor dela. Achei a ideia genial e uma forma bem interessante de criticar essa perspectiva de julgar os erros dos outros o tempo todo, enquanto ignora os seus. Apesar da produção ser independente, o roteiro é muito engraçado e dá pra ver no Youtube.

Chapa
 Esse é outro filme com aspecto mais humorístico e, sob direção de Fabio Montanari, se passa durante a Copa do Mundo que foi sediada no Brasil. É uma crítica leve e engraçada ao hábito de gourmetizar as coisas, combinada com a declaração de que no fundo a gente realmente gosta muito mais de aconchego. O trailer está disponível na internet.

O Melhor Som do Mundo
 Preciso de um momento de silêncio antes de falar sobre esse filme. Meu ascendente em câncer não aguentou e meus olhos encheram de lágrimas com essa história linda. O curta foi dirigido por Pedro Paulo e narra a história de um garoto que é obcecado por colecionar sons e que está em busca do mais bonito de todos. E é tudo contado com uma delicadeza de derreter o coração. Dá pra conferir o trailer aqui e já estou de dedos cruzados pra que seja postado na íntegra algum dia.

Espaço Protegido
 O curta alemão foi dirigido por Zora Rux e fala sobre assédio sexual e como lidar quando esse tipo de crime pode afetar toda a conjuntura de um grupo. Ele propõe uma discussão maravilhosa e tem falas incríveis que, sinceramente, mereciam muito mais visibilidade. O trailer não está legendado, mas dá pra entender um pouquinho da dinâmica.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

2º Festival de Cinema de Caruaru: Os curtas do primeiro dia + entrevista com Benedito Serafim


Sei que quem me acompanha no Snapchat (@opssteph) já me viu me derreter em elogios ao primeiro dia do festival, mas preciso comentar aqui também que foi maravilhoso. Toda a equipe é incrível e super atenciosa e os curtas escolhidos foram sensacionais.
 Para começar bem, a primeira mostra foi de direitos humanos e contou com curtas de todo o país. Para dar um gostinho de como foi, resolvi falar um pouco sobre o que foi exibido ontem.

O muro é o meio
 O primeiro curta é de Edualdo Monção Jr e fala sobre a pichação como forma de expressão artística e ideológica. Como base para o documentário, ele usa os alunos da UFS que costumam pintar nas paredes as coisas pelas quais lutam.
 Dentre resistência à violência feminina, indignação com a falta de professores e de recursos e homenagens a uma funcionária que morreu no local, há muito a ser defendido e expressado por esses alunos que escolhem o choque como método de chamar atenção e de ser ouvido.
 Dá pra assistir no Youtube e super recomendo para acompanhar uma visão diferente sobre essa forma de manifestação.

Uma família ilustre
 Com a direção de Beth Formagginiesse, esse curta também tem um aspecto documental e fala sobre a Operação Radar, que aconteceu durante a ditadura e que tinha o objetivo de dizimar os líderes do PCB.
 É de uma secura brilhante ver a entrevista com Cláudio Guerra, ex-delegado da policia civil que foi responsável pela incineração de militantes do partido comunista. O atual pastor relata a crueldade do período de uma forma que chega a ser assustadora de tanta falta de empatia.
 Num momento político em que há tanta discussão sobre intervenção militar, esse documentário é de uma importância gigantesca e todo mundo deveria assistir pelo menos uma vez.
 Infelizmente, ainda não está na internet, mas provavelmente será postado até agosto do ano que vem.

Miguel
 O filme de Natalia Grecco retrata a violência doméstica de uma forma cíclica fazendo uma ponte entre o filho que assiste a mãe ser violentada e o marido que se tornará repassando os mesmos conceitos.
 Com uma fotografia e uma trilha sonora que são as coisas mais graciosas do universo, o curta passa a mensagem de uma forma muito legal e cumpre muito bem o papel de alertar para como essa violência cria uma cadeia de atos perigosos.
 Além de tudo, combinou muito com o tema do Enem, mesmo sem querer. Ainda não está na internet, mas deve rodar o país em festivais.

Rito Sumário
 De Alexandre Derlam, o curta fala sobre aparências e corrupção. A ideia do diretor era retratar que apesar de sempre reclamarmos e mostrarmos indignação perante grandes atos, temos a tendência de abafar os pequenos golpes.
 É um filme que trabalha com metáforas e que tem uma distinta visão sobre a sociedade. Ainda não dá pra assistir ao curta inteiro, mas dá pra ter um gostinho através do teaser.

Cartas
 O curta de Pietro Santurbano tem uma perspectiva muito delicada. Ele também é um documentário e apresenta várias pessoas lendo trechos de um livro que é igualmente bonito.
 Só pela sinopse do filme já dá pra entender mais ou menos qual é a mensagem principal: "Eu preferia que, antes da cachaça, tivesse chegado o livro". É muito sutil e bonito, mas, infelizmente também não está disponível online.

Palloma
 Achei esse curta genial. Não poderia começar a falar dele sem deixar isso claro porque seria muito injusto. William Tenório trabalha a transsexualidade de uma forma extremamente sutil e tocante, que propõe uma reflexão maravilhosa sobre como a sociedade é capaz de silenciar as pessoas trans.
 É muito difícil achar pontos de vistas diferentes sobre assuntos que são trabalhados com tanta frequência, mas a produção desse filme que sequer precisa de diálogos para expressar tudo que procura mostrou que ainda há muitas formas de apresentar isso.
 Ele não está disponível na internet, mas dá pra conferir um pouquinho da mensagem no teaser.

Avenida Presidente Kennedy
 O filme de Adalberto Oliveira fala sobre essa avenida recifense, mostrando quantas coisas são ignoradas e silenciadas. É também de uma forma documental e apresenta um aspecto mais cru, que ajuda a evidenciar as mazelas que são retratadas.
 Atos de rebeldia, descaso e tantos outros fatos do cotidiano que costumam ser desprezados constroem esse curta que é um belo retrato social.
 Ele não está online, mas acredito que será postado até o final do ano.

Crua
 O curta de Benedito Serafim trás uma perspectiva diferente sobre a homossexualidade. Tem a intenção de chocar, mas não é um choque sem objetivo, é para mostrar que há muito a ser discutido e muito a se refletir. Mexe na ferida e retrata toda a confusão mental de quem se descobre perdido no meio de tanta heteronormatividade.
 Benedito disse que até o ano que vem vai estar na internet, mas enquanto isso dá pra confabular um pouquinho com os teasers
 Felizmente, ele estava lá no Festival e deu pra conversar um pouquinho com ele sobre esse filme maravilhoso e sobre o que vem por aí.
De onde veio a inspiração para o curta? Como surgiu a história?  
O filme vem trazer uma história que acontece muito no Recife e acho no país inteiro, que são os crimes passionais, com envolvimento de casos amorosos. Mas a ideia surgiu de um concurso de roteiro. A gente abriu um concurso de roteiro e aí chega o Crua pra gente, que, por incrível que pareça, já era de um amigo da gente, que é o Gleison Nascimento, que é poeta. Ele escreveu o roteiro e mandou pro concurso e a gente gostou muito e resolveu gravar. Essas histórias acontecem muito em Recife e está na hora da gente começar a discutir isso. A gente escuta muito sobre a homofobia, mas e os crimes passionais, como é que ficam? 
É sobre um preconceito contra si mesmo, né?  
Exatamente. No início só é sexo e de repente, do sexo por sexo você começa a ter uma relação com o cara, começa a se apaixonar e começa a perceber "não, isso não tá certo, eu me acho hétero, como é que eu tô me apaixonando pelo cara?". E é isso que começa o conflito na cabeça do personagem Tarcísio. Ele começa a se conflitar, "eu não posso estar amando esse cara, então é melhor acabar com esse mal pela raiz".
Esse foi seu primeiro trabalho como diretor?
De ficção, sim. A gente tem mais dois sobre o movimento Estelita, que é o 106 Sociedade Estelita e o Estelita há sangue nas suas mãos.  
Qual foi a maior dificuldade de manter esse projeto de forma independente? 
A maior dificuldade hoje realmente é na parte técnica. Procurar profissionais na área. Mas, o cinema pernambucano tem disso, a gente vai se adaptando. É a menina de moda que acaba virando figurinista, é o cara que trabalha em estúdio que acaba virando o som direto e assim vai. E eu acho que até por isso que o cinema pernambucano tem essa raiz, essa questão que não é improviso, eu costumo falar que é visceral. A gente transpira cinema e a gente começa a se adaptar, se moldar.  
E como funcionou a preparação de elenco? 
A gente se preocupou com isso, a gente chamou Samuel Santos, que é um diretor famosíssimo de Pernambuco e ele fez todo o trabalho de elenco com os atores. A gente gravou agora o Cara de Rato em julho e ano que vem vai estar nos festivais também, que o próprio Samuel também preparou. Esse tem o roteiro e a preparação de elenco de Samuel Santos. Samuel hoje é meu preparador de elenco oficial.


sábado, 31 de outubro de 2015

Educação sexual coletiva

[Essa é uma perspectiva centrada em relacionamentos heterossexuais porque achei que se encaixava mais com o padrão sexual heteronormativo]
"Então... isso foi sexo."
 Um dia desses eu e uma amiga passamos a noite ouvindo músicas que eram famosas durante a nossa infância. Passamos por Rouge, KLB, Rebelde e Bruno e Marrone. Mas o que realmente ficou na minha cabeça foi uma música de Caju e Castanha. Lembro de ter visto muitas vezes a dupla se apresentar nesses programas de fim de semana, cantando sobre a semelhança da “mulher do amigo” com instrumentos musicais.
 A letra era engraçada e essa era a única coisa da qual eu me lembrava, até a ouvir novamente. E aí resolvi lançar o raio problematizador e falar sobre tudo que está errado não só com essa música, como com toda a educação sexual coletiva que recebemos da mídia.
 A primeira coisa que me incomoda é o conceito de mulher de alguém. Acho bizarro e quase assustador usar mulher como se a palavra denotasse um sentido de relacionamento e de posse. Não se fala do homem de alguém, nem de esposa e homem, ou de ex-homem quando há separação. Mas é sempre marido e mulher, ex-mulher e a mulher de fulano. É o tipo de coisa que acontece tanto que dificilmente paramos para analisar e perceber que é, no mínimo, estranho.
 E aí tem toda a objetificação da mulher durante a letra inteira. Isso já dá pra perceber logo de cara porque, ao falar sobre a sexualidade feminina, o homem é representado como protagonista e a mulher como “instrumento musical”, ou seja, um objeto inanimado que será usado de acordo com os desejos de quem o manuseia. Nem quero entrar no mérito de analisar cada uma das coisas que o cara propõe fazer com a mulher, mas só partindo dessa comparação fica fácil notar que tá tudo errado.
 Mas, isso não é tudo. Se fosse só uma música de sei lá quantos anos trás, tava tudo ótimo. O problema é que há várias letras que escutamos o dia todo que tem esse mesmo princípio: apresentar a mulher como objeto de desejo e o objetivo masculino de ter uma listinha com nomes femininos que servem como conquistas.
 O que assusta ainda mais é que sabemos o quanto a música entra na nossa cabeça. Uma coisa que Felipe Pena usa para provar a influência musical é comparar a dificuldade de resumir cinco livros precisamente - com o começo, meio e fim -, com a de cantar cinco músicas inteiras ou de sintetizar o que elas dizem. O arranjo musical torna muito mais fácil absorver as informações. Sendo assim, o que escutamos ao longo de nossas vidas tem influência na forma que pensamos.
 É claro que não é, necessariamente, um processo de alienação, porque podemos filtrar criticamente o que nos é útil e o que é dispensável, mas ainda assim essas composições funcionam como um reflexo cultural do que é pensado. Ninguém comporia uma música falando sobre embebedar mulheres afim de retribuições sexuais (ou seja: estupro) se não houvesse a cultura de fazer esse tipo de coisa.
 Além das músicas, ainda temos filmes, programas, revistas e regras implícitas que ditam essa postura sexual. Há produtos cujo único objetivo é vender o corpo feminino como uma mercadoria para satisfazer desejos sexuais. Há conceitos de que mulher é “para casar” e de que mulher é “para se divertir” sendo passados em rede nacional em tentativas falhas de fazer humor.
 É uma mão dupla. Ao mesmo tempo que se ensina aos homens que eles precisam ser “experientes” e que é da “natureza deles” serem seres sexuais compulsivos, justificando o adultério e enfatizando a masturbação, as mulheres aprendem que não podem ser puras demais ou serão chamadas de frígidas, mas também não podem expressar muito desejo sexual porque isso demonstra falta de caráter. Toda a criação do papel sexual feminino é voltada para agradar a um parceiro egocêntrico que está centrado no seu próprio prazer.
 Por isso tantas mulheres sexualmente frustradas, tanta mistificação em torno do orgasmo feminino e tantas travas inúteis que são colocadas. A mulher aprende que a primeira relação sexual vai doer, aprende que eventualmente vai ter que fingir o orgasmo, aprende que certas coisas só as mulheres que “não se dão o valor” fazem.
 É quase uma cultura de medo que se cria, o sexo visto como uma obrigação. E não é para ser assim. Não é para ter alguém cujas necessidades são colocadas em primeiro lugar ou a existência de um patamar elevado, é para ser algo mútuo, algo compartilhado.
 A sexualidade feminina não é uma lenda, não é uma invenção. É uma preocupação e é, especialmente, algo que precisa ser discutido e valorizado.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Arquivo S: Cake, Uma Razão para Viver

 Sei que Jennifer Anniston é praticamente um amor universal, então imagino que todo mundo entenda a sensação de ir assistir a algo sem sequer saber direito sobre o que se trata só pela atuação dela. Foi exatamente assim que aconteceu comigo em relação a Cake, um filme do ano passado, no qual ela interpreta a protagonista.
 Desde o começo, a proposta foi apresentar um lado diferente da atuação dela, fugindo dos papeis mais comerciais que ela tinha interpretado nos últimos anos. E que diferença: a personagem mal-humorada, desbocada e, por vezes, rude combinou com Jennifer de uma forma extraordinária.

ENREDO
 Cake, que recebeu o maravilhoso subtítulo de Uma Razão para Viver (que poderia ser muito bem o nome de uma novela mexicana), fala sobre Claire, uma mulher que sofre com dores crônicas e depressão. Depois que Nina (Anna Kendrick), uma das mulheres do grupo de apoio que frequenta, comete suicídio, ela fica obcecada em saber mais detalhes sobre o acontecimento.
 A obsessão é tanta que inclui visões e conversas com a personagem de Anna Kendrick e visitas à sua família. De alguma forma, o foco de Claire na vida de outra pessoa a ajuda a ver seus problemas com mais facilidade e a impulsiona a fazer pequenas mudanças.

ELENCO
 É impossível não falar de como o papel foi absorvido e interpretado perfeitamente por Anniston. A personagem não era fácil e sua condição exigia uma preparação física e emocional que a atriz conseguiu dominar de modo fantástico. Por se tratar de alguém que sente muitas dores, era preciso a capacidade de demonstrar de forma não caricaturesca a situação, com uma movimentação comedida e expressões faciais que tinham que combinar com o estado do corpo. E funcionou super bem.
 Outra que é maravilhosa e que, inclusive, tem uma indicação ao Oscar no currículo é a Adriana Barraza, que interpreta a empregada de Claire. Cheia de cuidados que vão bem além do que se cobraria, a personagem é linda e tem uma sutileza misturada com o humor involuntário, sendo extremamente cativante.
 Anna Kendrick teve o desafio de interpretar as visões de Nina tidas por Claire e isso também exigia muito. Apesar do aspecto ter sido trabalhado menos do que deveria e do que seria lógico para construir o roteiro, houve um desenvolvimento que combinava com a forma que a própria Claire se via e o papel combinou muito com Kendrick, que também é um amorzinho em forma de pessoa.

FOTOGRAFIA
 A direção de arte desse filme é genial. As cores se tornaram, em muitas cenas, praticamente personagens da obra. A sobriedade em momentos de tensão e a quebra dos tons pastéis para representar a mudança foram transmitidas de forma fantástica.
 Outra coisa que me chamou atenção foi o uso da regra dos 2/3, que representa esse enquadramento em que o elemento fica no cantinho da cena. Os planos foram, no geral, bem abertos, acredito que para enfatizar essa questão das paletas de cores como elementos da narrativa.
 Apesar disso, também foram usados planos com foco nos rostos dos personagens, para ajudar a transmitir as emoções que eram, também, traços importantíssimos da trama.

OPINIÃO FINAL
 Sei que já deixei isso bem claro, mas pra mim o grande destaque desse filme foi a atuação da Jennifer Anniston. Tava linda, maravilhosa, sensível e mostrou que sabe sim atuar em coisas diferentes das comédias românticas que costuma fazer.
 Como mencionei antes, esse aspecto da obsessão da Claire em relação a Nina poderia ter sido mais trabalhado porque dá a impressão de que nem foi tão importante assim no fim das contas. Apesar disso, gostei muito do tom humorístico no meio de toda a tensão porque funcionou super bem.
 Senti falta de um pouquinho mais de desenvolvimento dos outros personagens, mas como era um roteiro muito emocional e focado na protagonista, acredito que não seja exatamente uma falha, só uma decisão narrativa.
 No geral, é um filme super interessante e que, com certeza, vai encher de orgulho o coração de quem já ama a Jennifer. Quatro estrelas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

As séries de Shonda Rhimes + 5 razões para amá-la

 Quem me conhece sabe que eu e a Shonda mantemos uma relação de amor e ódio. Apesar de eu ser apaixonada por absolutamente qualquer coisa que tenha o nome dela envolvido, ela é a rainha de me deixar na bad: Seja por separar um casal que eu ame muito, por matar um personagem ou por escrever umas cenas que me irritam. Mas, no geral, não posso parar de recomendar as séries da Shondaland pra todo mundo.
 Cheios de personagens fortes, tramas super envolventes e um engajamento social maravilhoso, esses seriados são alguns dos meus favoritos do universo e tem um lugar super especial no meu coração. Por isso, me sinto na obrigação de dividir esse mundo agridoce com vocês.

Grey's Anatomy (2005 - )
 É muito provável que você já tenha assistido pelo menos um episódio perdido de Grey's - como nós chamamos carinhosamente - porque a série já está no ar há mais de 10 anos. Por isso, ela foi meu primeiro contato com Shonda. Desde sempre, gostei de assistir vez ou outra quando estava passando na TV, mas só há pouco mais de um ano resolvi fazer a boa e velha maratona na Netflix e me apaixonar de vez.
 É difícil sintetizar tudo porque durante as 12 temporadas que nós já temos (e a promessa de que muitas ainda estão por vir!) muita coisa mudou, mas tudo partiu da história de Meredith Grey, uma interna de medicina que estava prestes a começar a trabalhar em um hospital.
 Mas, não é só de cirurgias, diagnósticos e raios-x que se vive Grey's Anatomy. Tem muito drama envolvendo os próprios médicos e, claro, os pacientes. Tem quem se apaixone, quem case, quem engravide, quem quase morra (algumas vezes), quem traia. Tem um pouquinho de tudo. 
 Se as paredes daquele hospital pudessem falar, contariam segredos sórdidos e uns acontecimentos que ninguém mais acreditaria.

Scandal (2012 - )
 Quando terminei de maratonar Grey's, resolvi me enfiar um pouquinho mais nesse universo de Shondaland e aproveitar que já tinha Scandal no Netflix. E só a partir daí é que notei que realmente qualquer coisa que a Shonda fizesse ganharia meu amor. Mais uma vez ela me conquistou inteiramente.
 A série fala sobre Olivia Pope, uma gestora de crises (?) que é ex-funcionária da Casa Branca e que, casualmente, tem um caso com ninguém mais, ninguém menos que o presidente dos Estados Unidos. Pra mim essa é a série mais difícil de explicar no mundo porque não dá pra resumir tudo que abrange, mas juro de dedinho que vale muito a pena assistir.
 Olivia já lidou com uns crimes complicadíssimos, ajudou em eleições - inclusive na do próprio presidente de quem é amante - e é, simplesmente, a maior resolvedora do problemas do mundo. Não há desafio grande demais para ela, tudo pode ser resolvido se passar pelas mãos dos Gladiadores (como ela chama os membros de sua equipe).

How to Get Away with Murder (2014 - )
 Annalise Keating foi a última das mulheres de Shondaland que conheci, mas nem por isso é menos maravilhosa que as outras. Se tem uma coisa que Shonda Rhimes sabe fazer brilhantemente é criar protagonistas fortes e maravilhosas. HTGAWM - como é chamada pra encurtar esse título gigante - só entrou no Netflix há alguns meses porque ainda está na segunda temporada. Apesar disso, é muito intrigante e maratoná-la é quase que obrigatório.
 A protagonista é uma professora de direito e advogada que dá estágios para cinco dos seus melhores alunos, os treinando para entender como agir no tribunal com maestria. Ela é incrível no que faz e é capaz de ganhar qualquer causa.
 Só isso já era suficiente para atrair a minha atenção, mas o seriado mistura o ofício de Keating com mistério de forma extremamente cativante, tendo um caso maior que se estende por toda a temporada e um outro crime que vai sendo construído por flashforwards que cumprem a função de aguçar a curiosidade do público.
 Essa é a única das séries em que Shonda não é roteirista, só produtora. Mas, por ser a que tem menos episódios, é um bom pontapé para conhecer o trabalho dela. Juro que os traços que diferenciam o trabalho de Rhimes ainda estão presentes na trama. 

 Se esses não foram motivos suficientes para convencer que a mulher é maravilhosa e faz séries maravilhosas, aqui vão as minhas cinco coisas favoritas em relação ao trabalho dela. Dê uma chance pra Shondinha quebrar seu coração, juro que vale a pena.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A técnica Pomoro: Como aumentar sua produtividade

[Um beijo pra quem viu esse post antes de todo mundo, quando postei sem querer! Hahaha.]
 Já estamos na semana do Enem e acreditem em mim quando eu digo que sei bem o que é surtar por causa desse maravilhoso sistema avaliativo que destrói nossas vidas e nossa sophrosyne*. É difícil coordenar o tempo e cuidar da nossa saúde mental, enquanto estamos nos preparando para uma prova que muda as nossas vidas e é aí que entra uma técnica maravilhosa: A técnica Pomodoro.
 Ela foi desenvolvida em 1992 por Francisco Cirillo, um cara que, durante a faculdade, tinha dificuldade em se concentrar nos estudos e resolveu criar um método para aumentar a sua produtividade. E o melhor de tudo é que funciona com qualquer tarefa que você se proponha a fazer.

 A ideia é realizar ciclos de 25 minutos, chamados de Pomodoros, e, entre cada um deles, descansar por 4 ou 5 minutos. Depois de quatro ciclos desse, você tem direito a um intervalo maior, de 20 minutos, pra descansar a mente e permitir se manter produtivo.
 O primeiro passo é anotar tudo que você precisa fazer. Se a ideia é estudar alguma coisa, anote o que você precisa ler/escrever em uma listinha para que possa visualizar e ter uma noção de quantos ciclos vão ser necessários. Se você está trabalhando ou realizando atividades domésticas, é só anotar as funções que você precisa exercer.
 Para monitorar o tempo, você pode usar um timer de cozinha - que foi o que deu a ideia a Cirillo, mas que talvez seja muito barulhento para quem trabalha/estuda em grupo -, um cronômetro ou aplicativos específicos para isso.
 O meu favorito é o ClearFocus, mas como ele só está disponível para Android, você pode usar as alternativas para iOS: o Todoist e o Simple Pomodoro Timer são super elogiados, mas só de colocar Pomodoro para buscar na App Store dá pra achar várias opções.
 O ClearFocus é ótimo porque ele vem com a opção de desativar a internet do celular durante os Pomodoros, o que ajuda muito na concentração porque você sabe que, se cancelar o ciclo pra checar uma rede social ou mandar uma mensagem, vai ficar cada vez mais longe do intervalo maior. Fora isso, ele cria um gráfico que é ótimo para estudantes porque dá pra saber para quais matérias você está estudando mais e ajuda dividir o seu tempo direitinho de acordo com as prioridades.
 Dá para mudar o tempo de acordo com o que funciona melhor para você. Sejam ciclos maiores ou menores, é válido ir testando para ver com que se adapta melhor.
 De toda forma, muita sorte para todos os vestibulandos e mais produtividade para todos nós.
*Grego pra a combinação entre o nosso auto controle, a nossa prudência e o nosso temperamento. Um beijo para os leitores de Wonderfall
P.S.: Pra quem ainda quer revisar essa semana, o blog do Descomplica é sempre uma boa opção porque trás um monte de assuntos importantes de forma leve. No mais, só respire e confie que vai dar tudo certo. Sua saúde mental é mais importante que qualquer resultado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Arquivo S: Que horas ela volta?

Desde que eu soube da indicação do filme Que horas ela volta? para representar o Brasil na categoria de filme estrangeiro do Oscar, fiquei morrendo de curiosidade de assistir. E aí que, depois de ler um monte de textos elogiando a obra, finalmente matei essa vontade e pude me juntar à legião de pessoas apaixonadas por essa produção maravilhosa.
 Apesar de gostar muito do título brasileiro, acho que o em inglês também representa muito a trama: Segunda mãe. Porque além de criticar toda a estrutura de trabalho doméstico no Brasil, a obra faz alusão ao fato da posição materna que as empregadas assumem diante dos filhos das famílias pras quais trabalham. Essa mulheres são, muitas vezes, responsáveis por grande parte da formação das crianças das quais cuidam.
ENREDO
 O filme, escrito e dirigido por Anna Muylaert, é protagonizado por Val (Regina Casé), uma pernambucana que se muda para São Paulo para trabalhar como empregada doméstica, onde se firma com uma família de classe média, em cuja casa mora e trabalha integralmente.
 Treze anos depois de decidir sair do estado de onde veio, Val recebe uma ligação da filha que pretende se mudar para a capital paulista, afim de prestar vestibular.
 A família para qual ela trabalha aceita prontamente receber Jéssica (Camila Márdila), afirmando que ela pode ficar "por tanto tempo quanto desejar", mas isso muda quando a garota se recusa a obedecer a determinações que a inferiorizam.

AVALIAÇÃO GERAL
 A obra é uma representação perfeita e delicada do relacionamento estabelecido entre empregas domésticas e patrões de classe média, que é baseado numa hierarquia disfarçada de empatia. Apesar de ouvir que é "praticamente da família", Val - a exemplo de várias outras mulheres brasileiras - tem que se contentar com um quartinho minúsculo e muito inferior ao dedicado aos hóspedes, se privar de comer certas coisas que são preferidas pelos patrões e atender a pedidos exagerados.
 É fácil se perder com o objetivo de retratar essa situação e acabar exagerando na medida, tornando a situação caricaturesca, mas Anna Muylaert passa longe disso. Dosando bem as cenas carinhosas entre a empregada e o filho da família com o tratamento que ela recebe do casal.
 Isso fica ainda mais evidente com a presença da filha dela, que se recusa a aceitar limites extremos que não apresentam explicações lógicas. Por que ela não pode se sentar à mesa? Por que tem que tomar aquele sorvete e não esse? Por que tem que se contentar com o quarto pequeno e abafado quando existe um bem mais espaçoso que está desocupado?

ELENCO
 Tive uma resistência inicial com aquela repetição de sempre da atriz do sudeste que faz um sotaque forçado pra representar um personagem nordestino. O que custa contratar uma atriz que seja realmente do lugar? Entendo que, só de ser associado ao nome da Regina Casé, o filme já receba um novo olhar, mas as nossas atrizes são tão boas quanto ela e só não têm reconhecimento porque a indústria não permite.
 Mesmo assim, gostei muito da atuação e achei que o papel combinou com o que ela tinha a oferecer. O sotaque não é lá muito convincente e o mainha sempre parece exagerado ao sair da boca dela, mas fora isso achei que ela teve uma sensibilidade maravilhosa que combinou com a sutileza da obra.
 Camila Márdila também teve uma atuação incrível. A ideia inicial da diretora era de ter uma atriz pernambucana pra interpretar a personagem, mas acabou mudando de ideia (por quêeee?) e escolhendo a brasiliense. O probleminha do sotaque também acontece, mas, como a própria Anna disse, ela conseguiu transmitir a secura que a Jéssica tem de uma forma brilhante.
 Outra que eu gostei muito foi a Karine Teles. Pra mim, a melhor forma de avaliar uma antagonista é prestar atenção em quantas vezes tenho vontade de entrar no filme e implorar pra que ela deixe de ser tão petulante/irritante/qualquer outro adjetivo que a descreva e isso aconteceu milhares de vezes com a Bárbara, personagem interpretada por ela.

OPINIÃO FINAL
 Apesar de ter um tema tenso e dramático, a obra é extremamente sutil, além de ser detentora de um ritmo muito agradável que permite que a dinâmica nunca morra. O ar de humor permanece no ar e em momento algum diminui o impacto da crítica feita.
 Esse filme é extraordinário e dá no público o tapa na cara de que tanto precisávamos. Dá vergonha de saber que não é nada ilusório, de que é exatamente desse jeitinho. Vivi a vida inteira com uma empregada em casa e pude me identificar com mais cenas do que gostaria. Do que deveria.
 É o tipo de obra que eu gostaria que passasse em todas as casas porque nós precisamos refletir sobre esse tema. E a Anna Muylart fez isso com uma maestria indiscutível. Cinco estrelas não são suficientes, esse filme merece cinco mil.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Vídeo: Atualização mensal de Agosto

 Oi, migos! Já faz um tempinho que não faço atualizações mensais, mas agora elas estão de volta, de um jeito um pouquinho diferente para que eu possa falar de mais categorias e dar atenção às coisas de que realmente gostei durante o mês.
 Cheguei até a pensar que essa seria a primeira atualização mensal a ir ao ar no dia certo: o primeiro do mês. Acordei mais cedo, gravei o vídeo de manhã, editei rápido e coloquei para subir. Estava tudo certo para que fosse publicado entre 20h e 21h, então fiquei super feliz por finalmente conseguir fazer isso. Só quando voltei da faculdade notei que tudo sairia conforme o esperado, se não fosse por um pequeno detalhe: coloquei o arquivo errado para subir no Youtube. Então tive que refazer o upload hoje, mas agora está aí e nem demorou tanto, né?
 Falei não só sobre livros, filmes e seriados, como também de aplicativos e de músicas que marcaram o mês. E resolvi, até, fazer uma playlist com o que mais ouvi durante agosto para compartilhar com vocês.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Arquivo S: Matrix

Vamos fingir que hoje é segunda-feira e que tá tudo certo com a resenha.
 Eu fui provavelmente a última pessoa a assistir Matrix na história do universo. É lógico que, como todo mundo que tá vivo no século XXI, eu já tinha ouvido falar do filme mil vezes, mas nunca tive tanto interesse. Sou meio lenta pra assistir filme de ação porque sempre acontece tudo muito rápido e fico confusa - sério!! Até com livro fico meio agoniada porque não consigo entender. -, então nunca tive muita vontade de assistir.
 Só que, para a minha felicidade, ontem o meu professor passou o filme na sala e eu pude me apaixonar por essa história maravilhosa e perceber que com certeza deveria ter assistido bem antes.

ROTEIRO
 O filme fala sobre A Matrix que é, basicamente, um sistema que compõe tudo que está a nossa volta. É como se tudo fosse uma ilusão criada para escravizar a raça humana e usá-la para conseguir energia. Ou seja, enquanto você lê isso você está sentado numa cadeira que não existe e poderia estar comendo uma pizza que não existe ou nadando numa piscina que, adivinha? Não existe.
 Só que uma profecia fala sobre um cara que vai conseguir acabar com tudo isso e salvar a raça humana. E, logicamente, achar o dito cujo é a maior missão do grupo de resistência que, após ingerir uma pílula, consegue ver a realidade.
 É aí que entra Thomas Anderson, um programador que recebe o nome de Neo quando está online e que pode ser o Escolhido para libertar os humanos.
FOTOGRAFIA
 A fotografia desse filme é maravilhosa. Fiquei apaixonada pelos enquadramentos incomuns que eles usaram, junto com uns slow motions muito legais que deram uma noção incrível do que estava acontecendo.
 Se eu costumo ficar incomodada com as cenas de ação, nesse filme, fiquei encantada por elas porque eram montadas de uma forma incrível. Foi uma mistura de slow motions com cenas com plano de detalhes (aquelas nas quais o foco é um detalhe) que funcionou super bem e fez com quem até quem tem mais dificuldade de acompanhar esse tipo de cena - como a que vos fala - consiga entender bem o que está acontecendo.
 Os efeitos especiais também são incríveis e não são esquisitos nem parecem destoantes como acontecem muitas vezes. Eles condizem com o que está acontecendo e foram colocados sem exageros.
DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA
 Senti falta de saber um pouquinho mais dos outros personagens. Aliás, de todos porque, na verdade, a gente mal sabe sobre o Neo, que é em torno de quem a história gira. Sei que isso não era o foco, mas não fazia mal, né? Gosto de ter a noção de que conheço os personagens, gosto de ficar torcendo e chorando e gritando, mas não senti muito isso com esse filme.
 Morri de preguiça do romance. Achei tão sem graça e desnecessário, sério. Sei que tem outros dois filmes, então espero que nos próximos ele seja ou um pouquinho mais desenvolvido ou acabado de vez porque foi bem chatinho.
 Uma coisa que me deixou encantada foi a habilidade dos diretores manterem o público entretido por 2 horas e meia. Não é o filme mais longo do mundo, mas também tem mais do que a duração média, então acho que é meio desafiador não deixar o espectador cansado. Mesmo assim, eles conseguiram deixar todo mundo atento e curioso.
OPINIÃO FINAL
 Já deu pra ver que fiquei bem apaixonada, mas vou reafirmar isso só pra não deixar dúvidas: estou apaixonada. Achei que o balanço dos questionamentos filosóficos com a ação e a ficção científica funcionou muito bem, foi tudo bem dosado e funcionou maravilhosamente.
 Esse não é um dos filmes de que eu sempre reclamo com só gente branca, então já ganhou pontos comigo por isso. Além disso, o elenco é incrível e muito talentoso. Depois disso, só posso esperar que, se você não tiver assistido, corra para ver o mais rápido possível. Quatro estrelas e meia.
P.S.: Todas as imagens foram retiradas do site Screencapped.net

PEDACINHO DE OPINIÃO COM SPOILERS PARA QUEM JÁ ASSISTIU AO FILME.

domingo, 16 de agosto de 2015

10 citações de I wrote this for you

 I wrote this for you é oficialmente um dos livros mais esquisitos que já li. Não só por não ter o nome do autor definido, mas porque o formato é completamente diferente do que estamos acostumados a ler.
 Nas primeiras páginas, já dá pra saber que a ideia é que ele funcione como uma carta: ele foi escrito para alguém e essa pessoa é provavelmente a única que vai ler e entender o sentido original, todos os outros leitores vão ter que procurar uma forma de se identificar com a obra.
 E isso é muito interessante. Cada capítulo é um texto curto com uma foto, lembrando o modelo de post do Tumblr (essa foi a primeira coisa que pensei quando vi). É um livro super delicado e que faz com que todo mundo sinta uma empatiazinha porque é fácil se relacionar com o que está escrito.
 Por isso mesmo fica difícil simplesmente fazer uma resenha dele. Então, resolvi trazer as minhas frases favoritas da obra. Infelizmente, ainda não tem uma versão em português, mas torço para que uma editora descubra essa fofura literária e lance aqui pra que todo mundo leia.
  1. Talvez eu ainda seja o quebra cabeça, mas você ainda é as peças. ("Maybe I'm still the puzzle, but you're still the pieces")
  2. Eu fingi que tinha enlouquecido para poder te contar as coisas que eu precisava. Eu chamo isso de arte. Porque arte é a palavra que nós damos para os nossos sentimentos que se tornam públicos. ("I have pretented to go mad in order to tell you the things I need to. I call it art. Because art is the word we give to our feelings made public.")
  3. E todo mundo, em algum lugar, é alguém, se nós dermos a eles uma chance. ("And everyone, somewhere, is someone, if we only give them a chance.")
  4. Você é as melhores partes de todas as músicas que eu amo. ("You are the best parts of all the songs I love.")
  5. Esqueça o ar, eu vou respirar você. ("Forget the air, I'll breathe you")
  6. Há milhões de formas de sangrar. Mas você é, de longe, a minha favorita. ("There are a million ways to bleed. But you are by far my favourite.")
  7. Quando eu olho para o céu à noite, todas as constelações parecem com você. ("When I look up at night, all the constellations look like you.")
  8. Você constantemente procura por um sinal e quando um é lhe dado e você não gosta dele, você o chama de coincidência. Coincidências não existem. ("You constantly look for a sign and when it's given to you and you don't like the answer, you call it a coincidence. There are no coincidences.")
  9. Todos nós precisamos acreditar em filmes, às vezes. ("We all need to believe in moveis, sometimes")
  10. Domingo sabe que ela é o fim. Mas ela fecha os olhos e faz de conta com toda a força em seu pequeno coração que, na verdade, ela é a aurora. ("Sunday knows she's the end. But she closes her eye, and she pretends with all the strength in her tiny heart that really, she's the dawn.")

sábado, 15 de agosto de 2015

Vídeo: Quem é mais provável?


Trazer pessoas que amo muitíssimo pro canal tá com certeza na lista das coisas que mais gosto de fazer. É muito legal gravar com esses amorzinhos e deixa o vídeo com certeza mais divertido porque morri de rir enquanto editava.
 Pelo jeito o youtube acha que é fofura demais porque, mais uma vez, foi um vídeo cheio de amor mais com a imagem meio estranha (???). De toda forma, foi impossível não postar porque eu realmente gostei muito de fazer, então espero que vocês gostem de assistir também.
 Se alguém quiser fazer, essas são as perguntas:
1) Esquecer de desligar o fogão
2) Peidar em público 
3) Rir da própria piada 
4) Comprar coisas que não precisa 
5) Chorar com filmes tristes 
6) Ser preso 
7) Ser atropelado por um ônibus 
8) Se tornar famoso 
9) Fazer drama 
10) Ficar irritado com coisa pequenas e bobas 
11) Sobreviver aos jogos vorazes 
12) Ganhar o BBB 
13) Gritar com objetos inanimados 
14) Chegar atrasado 
15) Esquecer aniversários 
16) Chorar em público 
17) Casar por dinheiro 
18) Esquecer algo importante 
19) Rir no momento errado 
20) Assumir o controle em uma situação 
21) Cuidar do outro quando está doente

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Um montão de links #4

 Amo fazer posts dessa categoria porque sempre vou revivendo o mês com os links que seleciono pra colocar aqui. Tentei não fazer uma lista gigante e sairam 30 links, acho que tá bom, vai?
 Menos que isso seria quase perder um órgão vital.

Posts
  1. A Roberta, um amorzinho em forma de ser humano, criou um blog lindo durante o último mês, que tem posts maravilhosos sobre transição capilar e sobre a linda da Jout Jout
  2. E falando de blogueira amorzinho a Joicy fez um post muito legal sobre crescimento capilar
  3. Nicki Minaj e o incômodo com a mulher negra que fala, da Maria Clara Araújo para a Revista Capitolina
  4. Você não precisa ter inimigas, no Jornalismo de Mulher
  5. As dez técnicas mais usadas pela grande mídia para manipular a realidade, no Pragmatismo Político
  6. 13 coisas para se lembrar se você ama uma pessoa com problemas de ansiedade, no Tive Crise de Pânico
  7. Amamentação: Muito além do peito, da Carol no Tchulim
  8. Pai não é herói, pai é gente, da Stephanie no Chez Noelle
  9. 50 cadernos para você criar no Evernote, da Thais Godinho no Vida Organizada
  10. A calculadora mágica de publieditorial, da Loma no Sernaiotto
  11. Vamos esclarecer umas coisinhas, da Mari no Lugar de Mulher
  12. Em busca da foto perfeita no celular, da Adri no Pequena Vanilla
  13. Quatro dicas para sair do art block, da Juliana Rabelo
  14. Cuidados com a pele durante a gravidez, da Lu Ferreira no Chata de Galocha (realmente não sei por que leio tanto sobre gravidez, massss)
  15. Precisamos falar sobre gaslighting, da Cati Carpes no Lugar de Mulher
Vídeos
  1. Vamos falar sobre estupro?, da Vanessa Chanice
  2. As séries do Emmy 2015, com a Carol Moreira e a Aline Diniz
  3. As sete melhores aberturas de séries, do Pipocando
  4. Fotografia de bolso, da Sharon Smith
  5. Vegetarianismo e veganismo, da Melina Souza
  6. Piores coisas de morar sozinho, da Jessica Flores
  7. Dicas para ser uma pessoa mais feliz e positiva, da Sarah Belle [em inglês]
  8. Corpo e mente, da Victoria do Chiclete Violeta
  9. Como escrever quando você não quer escrever, do canal do NaNoWriMo [em inglês]
  10. Como planejar a sua viagem, da Luly Trigo
  11. Conhecendo a literatura chinesa, no Cabine Literária
  12. Meça suas correções, parça, do Cabine Literária
  13. Gay na China, é diferente?, no canal da Julia Jolie
  14. Primeira semana da NYFA, da Lully no Lully de Verdade
  15. Sobre Axolotls, da Marzia [em inglês]

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Resenha de quinta: Passarinha, da Kathryn Erskine



Coloquei esse livro na TBR da Maratona Literária sem muita pretensão. Eu precisava de um livro de drama para completar a lista e todo mundo estava falando bem dele, então as coisas se combinaram e acabei o acrescentando, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa.
 E ainda bem que fui curiosa e que tudo aconteceu ao mesmo tempo porque esse livro me ganhou desde as primeiras páginas e foi um dos melhores que li no ano.

ENREDO
 O livro fala sobre a Caitlin, uma menina de onze anos portadora de Síndrome de Asperger, que acabou de perder o irmão mais velho, Devon, em um ataque de atirador.
 O garoto era não só o melhor amigo dela, como também um peça importante no seu processo de adaptação e de conhecimento em como lidar com o Asperger. Sem ele, tanto ela quanto o pai se veem perdidos e tem que aprender a resignificar suas relações, enquanto lidam com o luto e com todos os sentimentos naturais de uma perda tão forte quanto essa.
 Ao mesmo tempo, sua orientadora tenta fazer com que ela possa desenvolver melhor suas habilidades sociais, com missões como fazer novos amigos, aproveitar o recreio (que, para Caitlin, é "a pior matéria") e desenvolver empatia, já que esse é o último ano dela na escola em que estuda no momento, no próximo ela vai para o colégio no qual seu irmão morreu.

NARRATIVA E RITMO DE LEITURA
 Um dos diferenciais do livro é que ele é narrado em primeira pessoa, então dá pra se sentir dentro da cabeça da Caitlin. É possível vê-la se incomodando com as cores, repetindo as regras sociais que aprendeu com seu irmão e fazendo "bicho de pelúcia", uma tática para lidar com o que a incomoda.
 Isso passa uma sensibilidade incrível e é um ponto de vista maravilhoso para ajudar o leitor a compreender o que realmente está acontecendo e como a personagem se sente em relação a essas coisas. 
 Como a narrativa se desenvolve inteiramente conforme os pensamentos de Caitlin, a leitura se torna mais produtiva e leve, apesar de sua enorme carga emocional. Ela é uma narradora engraçada e que tem uma visão diferente sobre tudo o que acontece.
 Outra coisa que acho louvável na escrita da autora é fazer sutis alterações na narração de acordo com a forma com que o modo que Caitlin pensa muda. Na sua busca por empatia, por exemplo, é possível ver a diferença na indicação da presença dos outros personagens que, com o passar do tempo, ganham mais importância.

DESENVOLVIMENTO DOS PERSONAGENS
 Esse é um dos livros em que os outros personagens recebem mais atenção do que uma simples apresentação superficial. Eles são mostrados como pessoas de verdade, que tem um papel na vida de Caitlin e que são afetados pelo modo com o qual ela os trata e com o que ela representa em suas vidas.
 Os colegas de classe e professores de Caitlin e a forma com que eles lidam com a sua síndrome e com um outro colega que tem espectro autista são explorados, assim como a adaptação do pai dela com a nova fase na qual ele já não pode mais contar com o auxílio de Devon e a relação de outras pessoas com as mortes causadas pelo atirador.
 Além disso, a própria Caitlin tem que passar pela sua busca pelo desfecho, que é a forma que achou para tentar superar a morte do irmão e seguir em frente sem sua presença.


OPINIÃO FINAL
 Esse livro aqueceu meu coração de várias formas diferentes, em muitos momentos. A narrativa é incrível, os personagens são maravilhosos e a Caitlin é, sem dúvidas, encantadora. Não há nada que tenha me deixado desapontada e que não tenha me dado vontade de ler o mais rápido possível.
 É uma história curta, que dá pra ler facilmente em um dia, mas que traz uma percepção diferente sobre muitas coisas da forma mais pura de todas. Todas as pessoas do mundo merecem ler e ter um pouquinho da sabedoria e de todos os ensinamentos que a Caitlin tem a passar. Cinco estrelas.