terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Pedofilia e consentimento

[TW: Pedofilia] 


É muito comum numa discussão sobre pedofilia e relacionamentos abusivos deixar que a culpa recaia sobre a pessoa em posição inferior. A que é manipulada pelo relacionamento e que se torna dependente da outra pessoa. "Ela quis, ela consentiu". Ninguém estranha que um cara de 50 anos se atraia por uma menina de 12,  isso nem é citado como problema. Se ela quis, tá tudo bem. Não é perturbador que o cinquentão em questão sinta atração sexual por uma criança. Só seria errado se fosse forçado.
 Com 12 anos a gente toma um monte de decisões estúpidas. Ok, isso acontece com 18, 20, 30, 40 ou 87, a idade não é um fator tão determinante assim. Mas, com 12 anos você mal entrou na puberdade. Você está - ou, pelo menos, é o esperado - lentamente descobrindo como funciona uma relação sexual. Você esconde suas bonecas pra provar uma maturidade inexistente. Para de assistir desenho porque isso é coisa de criança e você já passou dessa fase. Nesse desespero por provar que não é mais um bebê e que tem habilidade para tomar as rédeas da sua vida, a suscetibilidade em tomar decisões precipitadas duplica, triplica, quadruplica.
 E você vai. Segura na mão do cara desconhecido, mas incrivelmente simpático que é a primeira pessoa a te tratar como o que você é. Quase adulta. Tão mais madura e inteligente do que as suas colegas de classe que suspiram por meninos novos. Ele te pede um beijo, daqueles que você viu em filmes e novelas. E você dá. Porque é isso que quase adultas fazem, elas beijam homens barbados, espertos, engraçados, como aquele que está te dando tanta atenção.
 Qualquer proposta dele vai ser aceita rapidamente. Mesmo que soe maluca e que desobedeça uma regra que foi imposta por seus pais, afinal, se não for assim, você vai perder aquela chance única e maravilhosa de estar com ele. Todas as descobertas que deveriam levar anos pra acontecer são arrancadas bruscamente de uma criança.
 No fim das contas, ela é uma vadia. Uma menina muito precoce e de quem as outras não devem ficar perto. Quem se lembra de culpar o homem, adulto e muito mais consciente por ter abusado da fraqueza dela? Quem se lembra de que apontá-lo como criminoso? Depois de ter o que queria, ele segue em frente. Ela tem sua vida modificada pra sempre, a inocência roubada e a função de carregar esse fardo para sempre.