Eu odeio qualquer cena que tenha a ver com dor. Seja tortura, assassinato muito explícito ou castigo, tudo me incomoda. Sinto um arrepiozinho no corpo inteiro como se eu estivesse passando por aquilo. E isso é, aparentemente, um crime horroroso. Um disparate da minha parte.
Há algum tempo, meu professor passou na sala um filme sobre a ditadura (o maravilhosíssimo Batismo de Sangue) e nele a tortura é super explícita. Isso quer dizer que eu fiquei me contorcendo na cadeira e fazendo acrobacias pra cobrir os olhos sem que as pessoas notassem. Mas, uma colega minha saia da sala em toda cena de dor porque ela não conseguia ver. E todo mundo ficava reclamando achando um absurdo.
Porque ter empatia, aparentemente, é quase uma ofensa pessoal a todas as pessoas que gostam de ficar olhando fixamente pra tela enquanto alguém é pendurado num pau de arara. E, sinceramente, acho isso não só de uma grosseria absurda, como, no mínimo, preocupante.
Lógico que você pode não se importar e gostar de ver/ler esse tipo de coisa sem necessariamente ser um psicopata, mas por que é tão absurdo assim que alguém não queira? Não consigo ver o que há de tão em comum em não se sentir confortável com cenas em que alguém está claramente sofrendo e sentindo muita dor.
Não que todo mundo que vira a cara seja necessariamente a personificação de Madre Teresa de Calcutá com muita sensibilidade e empatia pelo outro porque, na maioria das vezes, é uma reação que tem muito mais relação com pensar em quão horrível seria se acontecesse com você. Mas, mesmo assim, é válido. Porque, né, como já diria aquela velha regrinha da internet: Ninguém é obrigado.
Uma das coisas que mais me irritam é quando alguém (que é extremamente sem noção, vamos deixar claro) manda foto de um membro decepado ou de qualquer resultado de um acidente pra um grupo de Whatsapp sem perguntar nem se os outros membros querem ver. Tenho vontade de mandar uma mensagem perguntando se a pessoa acha que alguém ali tá querendo arrumar um freela de legista.
É uma cultura da dor e dos crimes constante e cada vez mais forte. São livros, documentários, filmes e tudo que se possa imaginar falando sobre psicopatas e serial killers como se contassem sobre alguém que caiu numa poça de lama num dia chuvoso. Acontecesse tudo de forma tão fria e clínica que parece que nem são pessoas reais passando por aquilo.
Isso não quer dizer que sou contra séries policiais ou livros policiais. Pelo contrário, adoro essas tramas investigativas e posso, facilmente, elencar meus seriados e livros favoritos sobre o tema. Só sou contra analisar esse tipo de situação, especialmente quando estamos falando de casos reais, sem a menor sensibilidade.
Um exemplo perfeito disso é aquele filme Sniper Americano que é só uma grande romantização de um cara que não só matou mais de 300 pessoas no Iraque, como escreveu na autobiografia que achava divertido e que queria ter matado mais. No cinema, ele tá como um herói patriota que fez isso por amor a nação (parte disso é reflexo do nacionalismo fascista estadunidense, mas até por aqui o filme fez muito sucesso). O longa arrecadou mais de 400 milhões de dólares ao redor do mundo, sinal claro de que tudo bem se o cara é um assassino, se ele cometer os assassinatos ao lado do exército e sua história virar um filme bonitinho, tá ok.
É preciso lembrar de que esses crimes malucos e mortes exóticas não são "massas", "interessantes", "muito loucos" ou qualquer coisa do tipo. É de vidas que estamos falando, não de um caso aleatório que foi criado pra entreter um público sedento por relatos sangrentos.
Então que cada um tenha liberdade para viver sua "frescura com cenas violentas" porque, na real, isso é bem mais humano que a adoração desses relatos. E que a gente compartilhe mais foto de gatos fofinhos do que de gente morta, por favor.
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